Roma,outubro de 2013
Memória do Bem Aventurado Francisco Xavier Seelos CSsR
Beatificação dos Redentoristas Mártires de Cuenca, Espanha
Queridos Confrades, Irmãs, Leigos Missionários e Amigos:
“Alegrai-vos à medida que participais dos sofrimentos de Cristo, a fim de que também na
revelação de sua glória possais ter uma alegria transbordante... Por isso, também aqueles que
sofrem segundo a vontade divina confiem suas vidas ao Criador fiel, fazendo o bem.” ( 1Pedro
4, 13,19).
No domingo, dia 13 de outubro de 2013, a beatificação dos 522 mártires da Guerra Civil
da Espanha (1936-1939) será oficializada em Tarragona, Espanha. Entre os que serão
beatificados estão os seis Redentoristas, Mártires de Cuenca: Padres Javier Gorosterratzu
Jaunarena, Ciriaco Olarte Pérez de Mendiguren, Miguel Goñi Áriz, Julián Pozo Ruiz de
Samaniego, Pedro Romero Espejo e o Irmão Victoriano Calvo Lozano. A beatificação é um
evento histórico, não apenas para a Província de Madrid e a Igreja na Espanha, mas também para
toda a nossa Congregação.
É importante lembrar o contexto em que estes mártires deram suas vidas. Foram muitas
as vítimas da Guerra Civil Espanhola. Aproximadamente 270.000 pessoas morreram, incluindo
soldados e civis. Muitos morreram por ações de guerra, mas muitos outros morreram também por
represália, por doenças e pela fome. Aproximadamente 6.850 morreram como resultado direto da
perseguição religiosa. Desses, 13 eram bispos e mais de 6.000 eram sacerdotes e religiosos. Entre
eles, quase 1.000 já foram beatificados ou canonizados. Outros 2.000 casos estão em processo.
Como se aproxima o encerramento do Ano da Fé, a beatificação destes 522 mártires celebra o
testemunho do martírio como um ato de confiança em nosso fiel Criador, como também de
participação nos sofrimentos de Cristo. Sem diminuir a importância do testemunho coletivo de
todos estes mártires, a família Redentorista recorda de modo particular os Mártires Redentoristas
de Cuenca. E lembramos que outros quatorze casos de Mártires Redentoristas estão ainda em
processo.
O testemunho dos mártires tem sido sempre muito importante e significativo para a
Igreja. Os primeiros discípulos de Cristo consideravam o martírio como seguimento radical dos
passos de Jesus, e como partilha dos seus sofrimentos, conforme São Pedro expressa na citação
da sua I Carta. O testemunho dos mártires vai além do gesto de enfrentar uma morte violenta.
Manifesta a razão pela qual eles estavam dispostos a dar suas vidas como testemunhas de Jesus
Cristo e a anunciar a Copiosa Redenção a todos. O martírio é uma proclamação da Boa Nova e
os mártires tornam-se testemunhas do Evangelho, e continuam “fazendo o bem” em favor dos
irmãos e irmãs.
Nos primeiros 200 anos da Congregação do Santíssimo Redentor nenhum Missionário
Redentorista foi assassinado e reconhecido pela Igreja como mártir. Santo Afonso tinha sonhado
com os Missionários Redentoristas pregando a Boa Nova em lugares distantes e abraçando o
martírio na fidelidade ao Evangelho. No entanto, antes de 1936, nenhum Redentorista tinha sido
martirizado pela fé.
Não creio que Afonso chegasse a pensar alguma vez que os primeiros
membros da sua Congregação a sofrerem o martírio teria sido na Espanha. É notável que desde
2001, a Igreja já reconheceu onze mártires Redentoristas que deram suas vidas por Cristo e por
seu povo, todos no século XX e todos na Europa – na Espanha, na Ucrânia e na Eslováquia.
No final de julho de 1936, quando aumentaram os sinais de perseguição em Cuenca, um
dos nossos mártires, Pe. Julián Pozo, começou a intuir que o martírio era uma possibilidade real.
Ele disse: “Nós, os Redentoristas, não temos mártires; vocês querem ver que seremos nós os
primeiros mártires?” Isto tornou-se uma realidade. Nenhum dos seis confrades buscou o martírio.
Vários tiveram claramente medo desta possibilidade. Todos eles deram suas vidas em
testemunho da redenção. A morte deles também nos lembra que hoje muitas pessoas continuam a
morrer como vítimas da violência, do preconceito, da guerra e da pobreza. Suas vidas e suas
mortes violentas nos convocam a construir a cultura do encontro e do diálogo, vislumbrada pelo
Papa Francisco para superar estes males que continuam a afligir a sociedade humana.
Em 2003, o tema escolhido pelo XXIII Capítulo Geral afirmou que “Dar a vida pela
Copiosa Redenção” é o coração da vocação do Missionário Redentorista.
Os mártires de
Cuenca viveram esta vocação e deram suas vidas como testemunhas da redenção. Eles
testemunharam ainda a verdade de que o chamado ao martírio pode vir a qualquer discípulo num
tempo inesperado e no lugar menos previsto. Bem poucos Missionários Redentoristas são
chamados a dar a vida como esses mártires fizeram. Somente um pequeno número de discípulos
cristãos derramará seu sangue através de uma morte violenta, em testemunho de sua fé em Jesus
Cristo. No entanto, todos nós somos chamados a dar nossas vidas pela Copiosa Redenção através
da proclamação do Evangelho e do serviço às nossas irmãs e irmãos. “Inspirados e fortalecidos
pelo Espírito Santo, empenham-se os congregados para chegar à total doação de si...”. (Const.
56).
Durante este Ano de Promoção da Vocação Missionária Redentorista, que a vida e o
martírio dos nossos confrades nos movam a renovar e a aprofundar nossa própria participação no
Carisma Redentorista. Confrades, Irmãs, Leigos e Religiosos – nós somos Missionários –
chamados a ser Testemunhas e Missionários da Redenção. Somos chamados a dar nossas vidas,
com generosidade e disponibilidade, em união com nossos irmãos os mártires de Cuenca.
Embora nem todos nós possamos estar fisicamente presentes em Tarragona no dia 13 de
outubro para celebração da Beatificação, eu peço a cada Missionário Redentorista, Irmã e Leigo
Colaborador que se unam em comunhão espiritual a esta celebração. Por favor, recordem este
importante evento em todas as nossas Igrejas e Capelas, em cada Missa e oração comunitária.
Peço a cada comunidade que dedique algum momento do dia 13 de outubro para unir-se em
oração e comunhão com os nossos novos irmãos beatificados. Onde é possível, peço-lhes que
realizem isto com o Povo de Deus e que partilhem com ele esta Boa Nova. 4
“Na verdade, na verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer,
ficará só. Mas se morrer, dará muitos frutos.” (Jo 12, 24).
Que as orações e a intercessão dos
Beatos Mártires Redentoristas de Cuenca sejam fonte de inspiração e de bênçãos para nós neste
Ano da Vocação Missionária Redentorista. Que seu exemplo e sua doação atraiam outros a
partilhar com eles o compromisso de seguir “Jesus Cristo, Redentor, através da pregação da
Palavra de Deus aos pobres” (Const 1). E que Santo Afonso e nossa Mãe do Perpétuo Socorro
nos acompanhem no anúncio do Evangelho de modo sempre novo e a dar nossa vida pela
Copiosa Redenção.
Seu irmão no Santíssimo Redentor,
Michael Brehl, C.Ss.R